segunda-feira, 18 de agosto de 2008

"Epitáfio"

"Devia ter amado mais,
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos,
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier"

Já teve a sensação terrível de arrependimento? No bom português do dia-a-dia, devia ter feito isso... devia ter feito aquilo... Acho que todos já sentimos vontade de voltar e aproveitar mais, aproveitar quem sabe até o próprio sofrimento.
Acho essa música fantástica e já há um tempinho queria colocá-la aqui, mas na semana passada tive a oportunidade de pensar mais a fundo sobre ela e fiquei mais fascinada. Como levo sempre aos alunos estrangeiros músicas brasileiras, resolvi levar Epitáfio e ao explicar a letra fui percebendo a grandiosidade desses versos. O título remete à morte, mas os versos alertam para a vida. É como se o sujeito poético nos dissesse: "Ei, a vida é agora! Depois que morrer não adianta lamentar..." Pesquisando sobre essa música, li em algum blog, do qual já não me lembro mais o nome, a seguinte frase: "Não deixe para o epitáfio, escreva hoje a história da sua vida". Acho que essa frase resume a idéia dessa música.
Com certeza todos vocês sabem que "Epitáfio" foi gravada pelos Titãs, gravação que fez bastante sucesso, mas nem todos sabem de quem é a autoria, certo? Sérgio Britto. É esse o nosso poeta de hoje.

SÉRGIO BRITTO:

Sérgio de Britto Álvares Affonso é o único carioca dos Titãs, mas deixou o Rio ainda bebê, logo depois que nasceu, no dia 18 de setembro de 1959. Ele e os irmãos, Rui e Gláucia, moravam em Brasília quando em 1964 os militares tomaram o poder e o pai deles, o então deputado federal Almino Afonso, líder do PTB na Câmara e inimigo feroz da ditadura, teve que deixar o Brasil para não ser preso. Um ano depois, quando Fábio, o caçula, já havia nascido, a família toda saiu do país. Durante os nove anos de exílio forçado, Sérgio Britto morou no Chile e acabou sendo alfabetizado em castelhano.
Britto cresceu ouvindo Beethoven, Chopin e outros monstros sagrados da música clássica que o pai escutava, mas até os 13 anos seu desejo era um só: ser pintor. Graças à irmã, que tinha aulas de violão, descobriu o disco "Help", dos Beatles, e passou a se interessar por música. Com 14 anos, ao voltar para o Brasil, teve as primeiras aulas de piano. Nessa época ouvia Yes, Emerson, Lake & Palmer, The Who, Led Zepellin, The Beach Boys e muita MPB. Logo depois passou a dedilhar o violão que a irmã deixava encostado num canto.
Já de volta ao Brasil, foi estudar no colégio Equipe. Mas enquanto os outros titãs se embrenhavam em bandas e festivais, Britto compunha sozinho, em casa, dividindo-se entre a música e os textos do poeta tropicalista Torquato Neto, que se suicidara em 1972. A obra de Torquato inspirou Britto a fazer suas primeiras músicas, como "Go back", cuja letra ele musicou e acabou fazendo parte do LP de estréia dos Titãs. Na mesma época, fez "Os Olhos do Sol", gravada somente em 2000, quando Britto lançou seu disco solo. No Equipe, o tecladista conheceu Arnaldo Antunes e com ele passou a fazer suas primeiras composições a quatro mãos. Quando os Titãs se reuniram informalmente em 1981, na "Idade da Pedra Jovem", Britto fez sua estréia numa banda.
O tecladista é o compositor com maior número de canções gravadas nos Titãs, entre elas sucessos como "Marvin" (com Nando Reis), "Homem Primata" (com Marcelo Fromer, Nando Reis e Ciro Pessoa), "Comida" (com Fromer e Arnaldo Antunes), "Miséria" (com Arnaldo e Paulo Miklos) e a recente "Epitáfio".
Em 1994, ao lado de Branco Mello e da baterista Roberta Parisi, Britto formou a banda Kleiderman, que lançou um único disco ("Con el Mundo a Mis Pies") pelo selo Banguela, criado pelos Titãs em parceria com a WEA. Em 2001, Britto mostrou seu trabalho pessoal no disco solo "A Minha Cara", reunindo 13 canções de sua autoria e parcerias com Fromer e Arnaldo Antunes.Britto mora em São Paulo, é casado com Raquel Garrido e é pai de José, nascido em 1999, e de Júlia, que nasceu no ano passado.

Gostaram? Eu adorei conhecer a história desse artista que, até ontem, era, para mim, mais uma parte dos Titãs. Que vergonha... mas eu via Titãs como um grupo, não enxergava os integrantes como indivíduos únicos, com funções e talentos diferentes. A biografia de Sérgio Britto foi retirada do site oficial dos Titãs: http://titas.net/ Neste site vocês encontram muitas coisas interessantes: as biografias dos integrantes, notícias sobre os Titãs, fotos, vídeos, a história da banda e também o blog de Sérgio Britto, no qual podem deixar comentários, fazer perguntas e o compositor responde a todos.
Espero que essa música lhes traga a vontade de não deixar nada para depois e de degustar cada pequena coisa que a vida nos oferece, como o pôr-do-sol.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

"Filho adotivo"

"Com sacrifício eu criei meus sete filhos
do meu sangue eram seis
e um peguei com quase um mês
fui viajante, fui roceiro, fui andante
e pra alimentar meus filhos
não comi pra mais de vez
sete crianças, sete bocas inocentes
muito pobres mas contentes
não deixei nada faltar
foram crescendo, foi ficando mais difícil
trabalhei de sol a sol
mas eles tinham que estudar
meu sofrimento, ah! meu Deus, valeu a pena
quantas lágrimas chorei,
mas tudo foi com muito amor
sete diplomas,
sendo seis muito importantes
que a custa de uma enxada
conseguiram ser doutor
hoje estou velho, meus cabelos branqueados
o meu corpo está surrado
minhas mãos nem mexem mais
uso bengala, sei que dou muito trabalho
sei que às vezes atrapalho
meus filhos até demais
passou o tempo e eu fiquei muito doente
hoje vivo num asilo
e só um filho vem me ver
esse meu filho,
coitadinho, muito honesto
vive apenas do trabalho
que arranjou para viver
mas Deus é grande,
vai ouvir minhas preces
esse meu filho querido
vai vencer, eu sei que vai
faz muito tempo
que não vejo os outros filhos
sei que eles estão bem
não precisam mais do pai
um belo dia, me sentindo abandonado
ouvi uma voz bem do meu lado
'pai, eu vim pra te buscar
arrume as malas
vem comigo, pois venci
comprei casa e tenho esposa
e o seu neto vai chegar'
de alegria, eu chorei e olhei pro céu
obrigado meu senhor a recompensa já chegou
meu Deus proteja os meus seis filhos queridos
mas foi meu filho adotivo
que a este velho amparou"

Como o domingo passado foi dia dos pais, resolvi fazer aqui uma merecida e emocionada homenagem ao meu pai. A história contada nos versos desse clássico da música sertaneja nada tem a ver com a minha vida, mas, tendo um pai que adora esse estilo musical, cresci ouvindo essa música e devo confessar que todas as vezes em que eu a ouvia, as lágrimas rolavam sem que eu as pudesse impedir. Ainda que pudesse fazê-lo, penso que não deveria, afinal, a emoção é para transbordar mesmo. Não lembro-me bem o que exatamente me fazia chorar ao ouvir “Filho adotivo”, mas acho que eu sentia pena desse pai. Que bobagem! Hoje eu vejo tudo de uma forma completamente diferente. Tenho pena é desses filhos que não sabem perceber a graça que é ter um pai.
Não sei em que se inspiraram os compositores. Talvez baseados em histórias vividas ou sabidas, talvez tenha sido apenas o “fingimento poético” de que nos fala o grande poeta Fernando Pessoa. Mas o fato é que, apesar de ser uma música bastante antiga, é, infelizmente atualíssima. Digo infelizmente porque é uma tristeza ver que muitos filhos maltratam, agridem, matam aqueles que lhes deram a vida. Hoje soube de uma notícia, a qual não consigo sequer adjetivar tamanho o horror que eu sinto por imaginar a cena: uma garota de 21 anos colocou fogo na mãe. Horrível? Muito. Triste? Demais. O fim do mundo? Talvez. Será que alguém que faz pouco do pai é capaz de amar? Atrevo-me a dizer que não.
Esta é uma das músicas sobre a qual tive mais dificuldade em comentar. Entre outros motivos, isso se deve ao fato de que não encontrei quase nada a respeito de seus compositores. Por falar neles, vocês sabem quem são? Se estou certa, a maioria respondeu que não. Sebastião Ferreira da Silva e Arthur Moreira. São esses os responsáveis por tantas lágrimas que derramei todas as vezes em que meu pai ligava seu radinho e ouvia Sério Reis. Naquela época, eu, e tenho certeza de que meu pai também, jurava que Filho adotivo era do cantor. Que injustiça! Sobre Arthur Moreira eu não encontrei absolutamente nada, somente seu nome citado como sendo um dos autores dessa música. Sobre Sebastião Ferreira, encontrei o que verão a seguir:

SEBASTIÃO FERREIRA DA SILVA:

Radialista e compositor. Ainda criança começou a trabalhar como porteiro na Rádio Cruzeiro do Sul em São Paulo. Foi operador técnico na mesma rádio, e, mais tarde, radialista. Trabalhou durante 28 anos na Rádio Globo e, por dois anos, na Rádio Record, ambas em São Paulo. Nos anos 1970 descobriu artistas que depois obtiveram sucesso, como Sidney Magal e Lady Zu. Como compositor, compôs, também nos anos 1970, o clássico sertanejo "Filho adotivo", que teve várias gravações. Teve composições gravadas por diversos artistas, entre os quais Moacyr Franco, Nilton César, Ângela Maria, Carmem Silva, Evaldo Braga, Amado Batista e Jerry Adriani. Tem 22 composições gravadas por Altemar Dutra. Todo esse repertório de cantores que gravaram suas criações me leva a crer que o compositor é especialista em músicas chamadas “bregas”.

Infelizmente foi somente isso o que pude conhecer sobre Sebastião Ferreira, o que me leva a fazer aqui um apelo: Por favor, quem tiver qualquer informação sobre os compositores dessa música que é tão especial para mim, nos presenteie participando através dos comentários. Vale lembrar que esse blog não é meu, é nosso e deve ser construído por todos. Conto com a participação de vocês!

Quero dedicar a postagem de hoje ao meu querido pai. Se seu pai estiver por perto, dê-lhe um beijo, se não estiver, faça-o estar. Pai, eu amo você!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

"Romaria"

"É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdido
Em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De jibeira o jiló
Dessa vida
Cumprida a só
Sou caipira, pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
O meu pai foi peão
Minha mãe solidão
Meus irmãos
Perderam-se na vida
À custa de aventuras
Descasei, joguei
Investi, desisti
Se há sorte
Eu não sei, nunca vi
Sou caipira, Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Me disseram, porém
Que eu viesse aqui
Prá pedir de
Romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar
Meu olhar"

Se eu tivesse que resumir em apenas uma palavra o que é essa música, eu a definiria como: emocionante. É, E M O C I O N A N T E ! Já pararam para pensar o que esses versos dizem? Bem, na verdade eu não o fiz e nem farei. Como disse, essa música é, para mim, emoção e eu acho que seria um pecado ficar pensando sobre ela. Sua melodia e sua letra me fazem sentir e a música, tal como a poesia, é isso: sentimento, não acham?
Gravada pela grande Elis Regina, cantada por tantos sertanejos e conhecida pelos quatro cantos do país, "Romaria" é o maior sucesso de Renato Teixeira, cantor e compositor.

RENATO TEIXEIRA:

Por ele mesmo...

"Confesso que não é nada fácil ter que contar minha história. Viver é uma coisa tão normal, que não vejo diferença nenhuma entre a vida de um artista e de qualquer pessoa. Entretanto, num determinado momento de nossa carreira, o trabalho que realizamos começa a ganhar notoriedade e a curiosidade aumenta, então a gente conta alguma coisa...Muitos estranham o fato da minha música ter origens caipiras e eu ser caiçara, nascido em Santos. Vejo isso como uma questão puramente familiar; são fatos circunstanciais, apenas. Passei a infância em Ubatuba e a adolescência no interior do Estado. Meu pai melhorou de emprego com essa mudança; eu e meu irmão já estávamos em idade escolar; Taubaté, naquele momento, era mais conveniente. Mudamos para lá. E foi muito bom! A música, em Ubatuba, já fazia parte do meu dia-a-dia. Das atividades familiares a que mais me interessava era a música; todos tocavam e alguns eram, verdadeiramente, músicos. Eu poderia ter sido fogueteiro como meu avô Jango Teixeira, que tocava bombardine na banda. Poderia ter sido professor como meu avô paterno, Theodorico de Oliveira, que tem uma linda história intelectual com a poesia e a literatura. Mas a música não me deixou espaços. Quis ser arquiteto por influência de um verso de Manuel Bandeira pregado na parede do atelier do Romeu Simi,; " Passou a arquitetura, ficou o verso." Vim para São Paulo no final dos anos sessenta, por indicação de Luiz Consorte que colocou uma fita com minhas músicas nas mãos de seu tio, Renato Consorte, que a enviou para os ouvidos do Walter Silva. Dei sorte! O Walter era um grande promotor de novos artistas e um homem muito conhecido nos meios de comunicação. As portas se abriram e, logo eu estava no Festival da Record de 67. Minha música era Dadá Maria e foi defendida pela Gal Costa (também em começo de carreira) e pelo Silvio César. Mas, no disco do festival, quem canta com Gal sou eu. Foi minha primeira gravação. Participei daquela fatia da história da MPB como um espectador privilegiado. Sempre procurei conhecer a nossa história musical, ouvir todas as canções e todos os gêneros. Do samba à música caipira. Em tudo que ouvi sempre deparei com o talento e a vocação dos compositores brasileiros. A geração musical que frutificou da Bossa Nova, nos anos sessenta era chocante. Uma linda síntese de tudo que aconteceu de essencial na música brasileira até então. Foi uma festa. Ouvi a Banda do Chico em São José dos Campos, antes do festival e foi um impacto inesquecível. Ainda morava em Taubaté. Ouvi Milton Nascimento antes do sucesso, e era deslumbrante. Todos que o conheceram nessa época, já tinham por ele uma admiração que só os grandes mitos podem desfrutar. Vimos e ouvimos Elis, todos os dias. Assisti bem de perto o surgimento do Tropicalismo. Na virada dos anos sessenta para os setenta a música silenciou. Fui fazer jingles publicitários para sobreviver. Acontece que gostei muito do assunto. Enquanto atuei nessa área consegui realizar um bom trabalho, pois criei jingles que fizeram muito sucesso como aqueles do Ortopé, do Rodabaleiro e do Drops Kids Hortelã, que muita gente lembra até hoje. Nesse tempo já havia me identificado totalmente com a música caipira. Participei efetivamente da Coleção Música Popular Centro Oeste/Sudeste do Marcos Pereira onde gravei algumas canções; entre elas: "Moreninha Se Eu Te Pedisse ". Com meus lucros publicitários e em parceria com Sérgio Mineiro, criei o Grupo Água, que nós dois bancávamos. Tocávamos sem visar lucros. Foi com esse grupo que consegui assimilar o espírito da cultura caipira e projetá-la de uma forma contemporânea para todo o Brasil. Tocamos muitos anos juntos até que, um dia, a Elis gravou Romaria e convidou o grupo para acompanhá-la na gravação. Foi um grande sucesso que mudou minha carreira e criou um grande espaço para que a música do interior paulista invadisse o mercado. Hoje vivemos um processo seletivo e a tendência é que, cada vez mais, as pessoas entendam o que Elis quis dizer, quando gravou Romaria. A parceria com Almir Sater é um grande momento na minha história. Juntos compomos alguns sucessos que são fundamentais para a sustentação das nossas carreiras. As mais conhecidas são Um Violeiro Toca e Tocando Em Frente. Outra parceria importante foi com a dupla Pena Branca e Xavantinho. Nosso encontro foi em Aparecida do Norte no início dos anos oitenta e, juntos gravamos o disco "Ao Vivo em Tatuí", que se transformou num marco no gênero. Aprendi muito com esses dois companheiros, verdadeiros representantes da cultura caipira. A morte de Xavantinho foi prematura, sua partida impediu que pudéssemos usufruir mais da voz deste que, na minha opinião, foi um dos maiores cantores brasileiros de todos os tempos. Meu projeto de vida é dar continuidade ao meu sonho de divulgar e difundir cada vez mais o espírito do caipirismo valeparaíbano; não pela repetição das velhas formas e sim pelo potencial que esse Universo cultural oferece para que, como sempre, a música brasileira avance em direção ao futuro, coerente com a evolução, naturalmente moderna."


Bonito relato, né? Certamente muitos já ouviram falar de Renato Teixeira, mas sei que não muitos conhecem, ou conheciam, sua história. Acho muito relevante a parte em que ele diz que a vida de um artista é tão comum quanto a vida de uma pessoa comum, mas vida e obra acabam andando juntas e uma obra com essa beleza merece ser difundida.
A biografia do compositor foi retirada do site www.renatoteixeira.com.br , no qual encontramos também fotos, discografia, notícias a seu respeito e sua agenda.
Ao contrário do que fiz quando postei as outras músicas, quero deixar a vocês uma pergunta. Renato Teixeira diz que "Hoje vivemos um processo seletivo e a tendência é que, cada vez mais, as pessoas entendam o que Elis quis dizer, quando gravou Romaria". O que ela quis dizer? Aguardo as respostas, hein... Participem!

domingo, 3 de agosto de 2008

"Rosas"

"Você pode me ver
Do jeito que quiser
Eu não vou fazer esforço
Prá te contrariar
De tantas mil maneiras
Que eu posso ser
Estou certa que uma delas
Vai te agradar...
Porque eu sou feita pro amor
Da cabeça aos pés
E não faço outra coisa
Do que me doar
Se causei alguma dor
Não foi por querer
Nunca tive a intenção
De te machucar...
Porque eu gosto é de rosas
E rosas, de rosas
Acompanhadas de um bilhete
Me deixam nervosa...
Toda mulher gosta de rosas
E rosas, de rosas
Muitas vezes são vermelhas
Mas sempre são rosas...
Se teu santo por acaso
Não bater com o meu
Eu retomo o meu caminho
E nada a declarar
Meia culpa cada um
Que vá cuidar do seu
Se for só um arranhão
Eu não vou nem soprar..."

E que mulher não gosta de rosas, hein? Ainda mais “Rosas” da Ana Carolina... Oops, eu disse da Ana Carolina? Desculpem, é a força do hábito - péssimo hábito por sinal! A cantora mineira (minha conterrânea), que é também uma compositora de mão cheia, gravou essa canção que tocou nas rádios por esse Brasil a fora em 2006, no Cd intitulado “Dois quartos”. Ao que parece, a única intérprete a gravar “Rosas” foi Ana Carolina. Mas agora vem a parte principal: afinal de contas, quem fez esse versos tão bonitos? Antônio Villeroy, ou Totonho Villeroy, como queiram. Conhecem? Não? Confesso que também não conhecia, mas as suas músicas há muito fazem parte do meu dia-a-dia e aposto que do de vocês também.

ANTÔNIO VILLEROY:

José Antônio Franco Villeroy nasceu no dia 19 de julho de 1.961 em São Gabriel, pequena cidade de vocação agropecuária, localizada na região do pampa gaúcho, perto das fronteiras com o Uruguai e Argentina. Filho de um casal de advogados, Gil Villeroy e Heloiza Franco Villeroy, Totonho, como era chamado carinhosamente pelos familiares, é o filho mais moço, tendo como irmãos Carlos Eduardo e Gastão.
Durante a sua infância, tem as suas primeiras influências através do gosto musical dos pais, amantes do jazz, da música clássica, popular e regional.Era a época dos grandes festivais, dos programas da jovem guarda, da explosão dos Beatles, e de uma profusão de talentos que emergiam na música brasileira. O ambiente era muito favorável, pois o pai era compositor diletante e tocava piano e violão e sempre havia reuniões com música em casa. Foi nessa época que Antonio ouviu algumas das primeiras canções que lhe marcaram e iriam influenciar suas escolhas e seu caminho musical: Bethânia cantando Carcará, Chico Buarque com Pedro Pedreiro, Gilberto Gil com Domingo no Parque, Caetano com Alegria Alegria, Gal cantando Baby, além das músicas dos festivais e dos embalos dos programas de Roberto Carlos. Também foram marcantes os Beatles com Penny Lane e o cantor regional Paixão Cortes cantando João Carreteiro, de autoria de seu pai.

1970/1979 - PORTO ALEGRA E BANDA DE ROCK

Muda-se com a família para Porto Alegre. Ganha aos 13 anos seu primeiro violão e começa imediatamente a interessar-se pela composição. Tirava músicas de ouvido como aprendizado, mas seu maior interesse era fazer suas próprias criações. Participa de alguns festivais secundaristas e monta com os irmãos e amigos uma banda de Rock chamada A Mursa, que tinha como referências Deep Purple, Jimmi Hendrix, Mutantes, O Terço, e bandas gaúchas como Bixo da Seda. Apesar do gosto pelo Rock sempre continuou atento ao que acontecia na MPB e tinha como discos de cabeceira 'Meus Caros Amigos', de Chico e 'Minas', de Milton Nascimento, esse o disco que definitivamente o levaria a querer compor.

1980/1989 - AGRONOMIA, MÚSICA E RIO DE JANEIRO

Ingressa nas faculdades de Agronomia UFRGS e Economia da PUC. Realiza estágios e desenvolve com colegas um projeto de agricultura orgânica. Integra o movimento estudantil, apresenta-se em festivais universitários, como o MusiPuc, famoso por revelar jovens talentos.
Atua com o flautista Pedrinho Figueiredo em bares e mostras universitárias. Participa de showmícios pelas eleições diretas.
Faz seu primeiro show em teatro: 'Do Outro Lado da Rua', e passa a se apresentar em palcos de Porto Alegre e cidades do interior do Estado. Monta com seu irmão, o contrabaixista Gastão Villeroy, com o pianista Rafael Vernet e o baterista Queço Fernandes a Banda CEP 90.000, que, sempre somada a um naipe de sopros, desenvolvia um trabalho híbrido com composições instrumentais e cantadas de autoria de Totonho, desfiando um repertório que ia do samba-funk a baladas com cores jazzísticas.
A partir de 1985 resolve dedicar-se exclusivamente à música. Muda-se para o Rio de Janeiro, onde estuda harmonia funcional com Jan Guest e contraponto com Koellreuter e faz pesquisas nas áreas de história da música e musiocoterapia. Ganha a vida lecionando violão e harmonia e compondo trilhas para espetáculos de teatro e dança.

1990/1996 -TRÂNSITO, EUROPA E BRASIL FESTIVAL

Retorna a Porto Alegre. Grava seu primeiro disco, 'Totonho Villeroy', com participações especiais de Toninho Horta e Renato Borghetti. Recebe por esse disco o Prêmio SHARP de Revelação da Música Popular Brasileira e Prêmio AÇORIANOS na categoria Melhor Disco do Ano. A segunda premiação se repete em 1995 ao gravar o disco 'Trânsito'. A partir de 1994 e até 2006, passa a fazer tourneés regulares pela Europa, onde realiza cerca de 200 apresentações em festivais, casas de jazz e bares de cidades da Alemanha, Suíça, Áustria, Inglaterra, Itália, Portugal, Espanha e França, Essa última tornou-se sua segunda casa, não só pela descendência de seu nome de família, mas também pela afinidade com a língua e o povo francês. É lá que conhece o produtor cultural François Mas, com quem idealiza e passa a produzir a partir de 1996, o maior festival de música brasileira que acontece regularmente na Europa. É o Brasil Festival, evento com entrada franca que acontece ao ar livre em pleno verão europeu na cidade de Sanary Sur Mer, à beira do Mediterrâneo e onde já cantaram artistas como Gilberto Gil, Milton Nascimento, Jorge Benjor, Lenine, Margareth Menezes, Paralamas do Sucesso, Marcelo D2, Ana Carolina, Chico César, Daniela Mercury, Olodum, Elba Ramalho, Carlinhos Brown, Papas da Língua, Fernanda Abreu, Pagode Jazz Sardinha's Club, Bárabara Mendes, Paula Santoro, O Rappa, Skank, Henri Salvador (convidado especial em 2004), Renato Borghetti, Trio Mocotó, Funk'n Lata, Dudu Nobre, Bebeto Alves e Gelson Oliveira entre outros.

1997/2000 - JUNTOS E ANA CAROLINA

Com os parceiros conterrâneos Bebeto Alves, Gelson Oliveira e Nelson Coelho de Castro grava dois discos, 'Juntos 1 Ao Vivo' e 'Juntos 2 Povoado das Águas', que rendem diversos prêmios locais, como o Açorianos de melhor disco do ano (97 e 2000) e de melhor show (97). Com este espetáculo apresentam-se com sucesso em Buenos Aires, Montevidéo, Paris, Munique e Viena.
Apresenta-se com sua banda em Buenos Aires e é convidado a fazer parte do espetáculo e disco homônimo 'Porto Alegre Canta Tangos', com cantores gaúchos de diferentes gerações como Ruben Santos, Lourdes Rodrigues, Vitor Ramil e Luciana Pestano, acompanhados por uma típica argentina com arranjos do maestro Estebán Morgado. O show estréia em Buenos Aires e depois segue com apresentações em Porto Alegre e Roma.
De passagem por Belo Horizonte, assiste a um show da cantora Ana Carolina, que já era bem conhecida regionalmente. Durante a apresentação escreve quatro letras de música, entre elas 'Garganta', que, depois do show, mostra para Ana, que de cara se diz muito identificada com a música. Alguns dias depois Antonio grava e envia para Ana a canção que viria a ser, em 1999, o primeiro sucesso nacional de ambos, ao ser incluído no primeiro álbum da cantora pela BMG. A música foi tema da novela 'Andando nas Nuvens' e passou a ser executada maciçamente em rádios de todo o país. A partir daí começa uma frutífera colaboração entre ambos e que vem a se materializar em inúmeras canções escritas em parceria e outras que Antonio compõe especialmente para Ana e que se tornam grandes hits da música brasileira.

2001/2005 RIO DE JANEIRO E MUITAS CANÇÕES

Tendo Ana Carolina como sua principal intérprete, Antonio Villeroy muda-se novamente para o Rio de Janeiro e passa a ser um dos mais requisitados compositores da MPB. Inúmeros artistas passam a solicitar suas canções que hoje podem ser ouvidas nas vozes de Maria Bethânia, Ivan Lins, Gal Costa, Mart' Nália, Moska, Paula Lima, Sandy e Junior, Vanessa Camargo, Eliana Printes, Bárbara Mendes, Luciana Melo, Preta Gil, Luiza Possi, Daniela Procopio, Ednardo e Belchior entre outros. Entre outros fatos marcantes ele assina sete canções do álbum mais vendido no Brasil em 2005, o Perfil da cantora Ana Carolina (um milhão de cópias).
Sua obra, considerada rica em imagens, harmonias, palavras, cores, repleta de sabedoria e criatividade é também aproveitada pelo cinema nacional. Entre suas criações para o cinema estão 'Amores Possíveis' em parceria com João Nabuco, música tema do longa ganhador do prêmio de Melhor Filme Latino Americano no Sundance Film Festival, 'Sexo, Amor e Traição', em parceria com Eugenio Dale, do longa homônimo de Jorge Fernando, 'From Ruins of a Town' para o filme 'Neptune's Rocking Horse', do diretor nova iorquino Robert Tate, além de uma versão de 'Que me importa dei Mondo', sucesso de Rita Pavone, para o filme 'O Casamento de Romeu e Julieta', de Bruno Barreto.
Sua facilidade com a palavra o torna um homem de muitas línguas. Dentre suas inúmeras canções, algumas foram compostas em diferentes idiomas. 'Una louca tempestad' é um exemplo de que o espanhol e a proximidade com sua terra natal, reforçam seu tom latino. Em seu segundo disco, 'Trânsito', encontram-se a canção 'La vague vá', escrita em francês e 'From Ruins of a Town', em inglês. Em seu mais recente álbum, uma bossa em italiano, 'Siamo Così', em parceria com Daniela Procopio.
Com espírito cosmopolita, Antonio estabelece parcerias musicais com autores e compositores de diversas procedências, como o italiano Antonio Galbiati, fornecedor de hits de Giane Morandi, Laura Pausini e Eros Ramazzotti, e com americanos, como Don Grusin, Charles Midnight, Jeff Franzel, Eve Nelson, Rich Nehars, Rhyan e Marshall Altman.
Lança em 2004, pelo seu selo Pic Music, o seu primeiro álbum gravado ao vivo é indicado ao Grammy Latino 2005 de melhor canção da Língua Portuguesa com a bossa 'São Sebastião' dedicada à cidade do Rio de Janeiro, uma obra-prima segundo o cineasta Walter Lima Jr.

2006/2007 UM PASSO À FRENTE

Em 2006, para marcar um passo à frente na sua carreira, se firmar também como intérprete e expandir o mercado internacional, Totonho passa a assinar Antonio Villeroy.
É lançado em CD e DVD o show 'Sinal dos Tempos', gravado ao vivo com a participação da Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro de Porto Alegre, das cantoras Ana Carolina e Daniela Procópio e do compositor e pianista João Donato.

O cara não é uma fera? Merece nossos aplausos! A biografia foi retirada de seu site, http://www.totonhovilleroy.com.br/. Neste site vocês encontrarão muitas informações sobre sua vida e obra e eu garanto: vale a pena conhecer o trabalho deste compositor!